Projeto de pesquisa

A cultura construtiva em madeira no Brasil há vários anos tem sido relegada a um segundo plano no cenário da arquitetura brasileira, onde este material ou é subutilizado, caso das “favelas” ou assume características de alto custo pelos preços abusivos impostos pela economia de mercado. As construções em madeira tiveram papel importante na colonização do Brasil. Juntamente com a pedra e a terra, a madeira permitiu a ocupação de boa parte de nosso território. Com princípios que podemos chamar hoje de sustentáveis, como se pode destacar pelo uso de materiais locais, renováveis e/ou abundantes; pelo emprego de mão de obra local; pelo baixo impacto ambiental sobre os meios naturais; pelo uso de fontes energéticas naturais, como água, vento, sol, dentre outros aspectos. Já no Século XX, com a industrialização do país, a partir dos anos 1930, e a consolidação das indústrias metalúrgica, siderúrgica e cimenteiras, o setor da construção civil se transformou. O uso de novos materiais industrializados e principalmente do cimento e aço avançou como forte opção para o setor da construção. A madeira é substituída como principal material da construção, mas as florestas não deixaram de ter a sua serventia. Como exemplo triste é citado o caso da Floresta de Araucária. Localizada principalmente na Região Sul, mas também no sudoeste Paulista e regiões serranas do Sudeste Brasileiro, este bioma foi praticamente dizimado para, principalmente, produzir componentes básicos para as construções estruturadas em concreto na forma de escoramentos, andaimes, barracões de obra e toda sorte de subutilização. Esses usos contribuíram para a caracterização da madeira como material de baixa qualidade e subemprego. Junte-se a esse cenário o êxodo rural e a omissão do poder público para elaborar políticas públicas para o planejamento urbano das grandes cidades para explicar o fenômeno das favelas. Os resíduos da construção do desenvolvimento urbano tornaram-se o material mais empregado na construção das precárias moradias das periferias. Essas situações e muitas outras explicam o grande preconceito existente no emprego da madeira para a construção de edificações no Brasil. Forjou-se uma situação onde o emprego da madeira para a construção de moradias, escolas, prédios públicos, etc, é vista como uma obra de qualidade inferior. A expressão ?casa de material? é muito usada para justificar a escolha dos novos moradores pelo desejo de ter uma casa de qualidade em detrimento da madeira. Pode-se citar também a fábula dos ?três porquinhos? onde o ?lobo mau? derruba facilmente, com seu sopro, as casas de palha e de madeira, mas que não consegue o mesmo com a casa de tijolos, ou ?casa de material?. Esses simples, mas relevantes, fatos confirmam a construção dessa cultura preconceituosa em relação ao uso e aplicação da madeira nas construções brasileiras. Esta pesquisa busca fazer o estudo e a análise de boa parte da obra desse arquiteto com foco nas informações construtivas e estruturais (tipo de materiais, espécies de madeira, sistemas construtivos e sistemas estruturais empregados, detalhes de projeto, dentre outras) que possam servir de referência para o ensino de arquitetura e engenharia civil e para os profissionais da construção. Propõe-se fazer um registro sistemático com as principais informações técnicas construtivas e estruturais, seja com fotografias de detalhes e da obra como um todo, com desenhos técnicos apresentando a construção em plantas baixas, cortes e perspectivas, bem como com a apresentação de modelos reduzidos tanto da edificação como das partes relevantes de cada obra. Com estas informações, será possível formar um banco de dados que subsidie o estudo e o desenvolvimento de novas práticas para a construção em madeira e se torne referência para o meio acadêmico e outros de modo contribuir para a retomada da cultura construtiva em madeira no Brasil.

Integrantes

Ivan Manoel Rezende do Valle (Coordenador)

Ailton Cabral de Moraes

Thaisa Marques Leite

Giselle Marie Cormier Chain

Pedro Agostinho Ferreira de Miranda Santos

Thiago Pacheco Turchi

Ana Elisabete de Almeida Medeiros

Jaime Gonçalves de Almeida

Financiamento

Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal - Auxílio financeiro.